José de Nazaré, por Ir. Paula Gobbi, ISJ

José de Nazaré
Mundo cristão afora, onde estão Jesus e Maria, lá está José. Pelo lugar que ocupa na singular família de Nazaré, o silêncio e o mistério que o cercam, podem ser intrigantes.  Poucas referências nos evangelhos e nenhuma palavra dele. A cidade onde criou sua família, a insignificante Nazaré, na Galileia, teria entre 200 e 500 habitantes e nem é mencionada fora do Novo Testamento. Aí, é até lembrada com certo desdém: Pode vir alguma coisa boa de Nazaré? (Jo 1,46) 

Tempos difíceis aqueles, na Galileia, sob o governo de Herodes Antipas apoiado pelo poder romano (4 a.C. a 39 d.C.). Envolvido em dois grandes empreendimentos, a reconstrução de Séforis (a 6 km de Nazaré) e a fundação de Tiberíades, Herodes aumentava ainda mais a tributação sobre os camponeses e artesãos das aldeias. Nos evangelhos aparecem ecos do descontentamento e revoltas populares. 


Este foi o cenário da vida de Maria, a Mãe de Jesus, e de José, seu pai adotivo. Neste ambiente, viveu e “cresceu em idade, sabedoria e graça” aquele que veio armar sua tenda no meio de nós. Enquanto Maria e José estavam casados, ainda sem coabitar, Maria, cheia de graça, se encontrou milagrosamente grávida. Surpreendido pela inusitada gravidez, José viveu o dilema de entregar sua amada esposa à justiça da Lei de Moisés, rigorosa nos casos de adultério. Discernindo melhor, José decidiu abandonar Maria secretamente*. A situação mereceu uma intervenção de anjos. E José assumiu a missão de ser esposo de Maria e, para todos os efeitos, pai adotivo de Jesus.

Coube a José a responsabilidade de cuidar da manutenção da família, uma família entre “os pobres de Javé”, aqueles que esperavam no Senhor. Junto com Maria, José criou e educou Jesus, formando-o para a vida tendo presente as tradições, costumes e práticas do judaísmo, a observância do sábado e das festas e iniciação na vida de trabalho.

Pé no chão, em silêncio, disponível e fiel a Deus, José viveu preocupações  e alegrias nos misteriosos caminhos de Deus para ele, na missão de esposo de Maria e pai de Jesus. Deslocamento com Maria grávida, fuga clandestina, enfrentamento do mundo desconhecido no exí­lio, retorno... E o cotidiano de Nazaré, como carpinteiro, trabalhador diarista, artesão. Quem sabe, por necessidade ou exigência de mão-de-obra, com Jesus jovem, José foi trabalhador explorado, em Séforis e Tiberíades. 

Agraciado, José pautou sua vida pela vontade de Deus. Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade! (Heb 10,7)

* Num encontro de Novena de Natal, na periferia de Goiânia, uma mulher pobre e analfabeta, deu sua versão do impasse de José: “Imagine, José abandonar Maria... ele estava só fazendo de conta. Ele amava Maria, nunca ia deixá-la”. 

Irmã Paula de S. José Gobbi é missionária da Congregação das Irmãs de S. José de Chambéry em S. Paulo. Durante 25 anos foi missionária em Goiás e Mato Grosso.
 por Ir. Paula Gobbi, ISJ
Fonte: www.avemaria.com.br