Sobre a morte de São José

Sobre a Morte de São José
Pe. José Antônio Bertloin, OSJ

Os anos passavam e José, fiel vocacionado, sentia que o tempo da sua partida deste mundo se aproximava. Restava-lhe, porém, transmitir a Jesus uma última experiência, justamente a da sua morte. A sua missão estava terminada, tudo o que o pai lhe havia determinado estava realizado. Era hora de deixar estas duas companhias tão ternas que lhe tinham marcado a vida, privar-se da presença de Jesus e de Maria por algum tempo e ir juntar-se às almas dos justos aguardando o suspirado dia da redenção de todos os homens.

Não podemos dar uma resposta precisa quanto ao número de anos que São José viveu. Podemos apenas, baseando-nos em Lucas 2,41-52, afirmar concretamente que ele viveu até os doze anos de Jesus. Mas, quando morreu exatamente é uma pergunta que aguça a nossa curiosidade, pois não encontramos nenhuma referência a ela nos Evangelhos. Por isso, devemos recorrer às opiniões concernentes à Sagrada Escritura e também à razão. As opiniões divergem muito, porém a opinião mais unânime entre os teólogos josefinos é que ele morreu no início da vida pública de Jesus. Essa opinião é compartilhada por teólogos como Gerson, Suárez, São Boaventura, São Bernardino de Sena, São Jerônimo e outros. Para os defensores dessa opinião, São José morreu depois do batismo de Jesus no Jordão e antes das bodas de Caná. Portanto, logo nos primeiros dias da vida pública de Jesus. Os motivos da conveniência de sua morte quando Jesus tinha cerca de trinta anos, (Lc 3,23) podem ser deduzidos do fato de que nas bodas de Caná José estava ausente, não porém Maria (Jo 2, 1-11). Durante a pregação de Jesus, quem se dirige a ele é sua mãe Maria e seus primos (Mt 12,46ss). Junto aos pés da cruz, Jesus confiou sua mãe ao discípulo João (Jo 19,27). Se José estivesse vivo, essa recomendação de Jesus não teria sentido. Esta opinião, portanto, parece-nos a mais sensata, mesmo porque, na opinião de alguns teólogos, José, não tendo participado do ministério de Jesus, fez com que ele pudesse revelar claramente que a sua filiação era divina, indicando com isso que São José teria cumprido a sua missão diante de Deus com perfeição.

Mas, como acenamos, existem outras opiniões a este respeito. Uma delas, também muito conhecida, é de Santo Epifânio, para quem São José deve ter morrido depois que Jesus completou doze anos. O fundamento da sua afirmação é que, depois dessa data, os evangelistas não se referem mais a José. Essa opinião não possui fundamento, pois São José tinha a missão de custodiar Jesus. Se tivesse morrido neste momento particular da vida de Jesus, como poderia ter realizado todo o desígnio de Deus a seu respeito?

Outros, como São João Crisóstomo, afirmam que São José esteve presente inclusive aos pés da cruz de Jesus. Essa opinião não é compartilhada pela maioria dos teólogos, pois Jesus na cruz confiou a sua mãe ao discípulo João. Se José ainda vivesse, como haveria Jesus de confiar sua mãe aos cuidados de um discípulo? Como poderia Jesus romper o vínculo do matrimônio existente?

Há os que postulam a morte de São José durante a vida pública de Jesus, e como prova usam as palavras do evangelista Mateus: “Não é este o filho do carpinteiro?" (Mt 13,55). Que José tenha vivido durante a vida pública de Jesus também não encontra ressonância nos Evangelhos. A prova disso é que não estava nas bodas de Caná. O fato de chamarem Jesus de “filho do carpinteiro” durante a sua vida pública prova apenas o costume dos judeus de chamarem os filhos citando o nome ou a profissão dos pais, quer estes fossem vivos ou mortos.

Portanto, a opinião de que José morreu após o batismo de Jesus no Jordão, é a mais plausível e sensata, pois José já teria cumprido a sua missão.

Resta-nos ainda responder a uma pergunta que aguça a nossa curiosidade: Como foi a morte de São José? Não temos elementos convincentes para nos esclarecer a respeito deste momento particular do nosso santo. Temos porém a afirmação do grande estudioso Josefino Isidoro de Isolanis. Ele diz que nas igrejas do Oriente, no dia 19 de março, desde os primeiros séculos, costumava- se ler solenemente ao povo uma narração piedosa da morte de São José. Esse relato seguia deste modo: “chegou para São José o momento de deixar esta vida. O Anjo do Senhor lhe apareceu e anunciou que chegara a hora de abandonar o mundo e ir repousar com seus pais. Sabendo que estava próximo o seu último dia, quis visitar pela última vez o Templo de Jerusalém, e ali pediu ao Senhor que o ajudasse na hora derradeira. Voltou a Nazaré e, sentido-se mal, recolheu-se ao leito. Em pouco tempo o seu estado agravou-se . Entre Jesus e Maria, que o assistiam carinhosamente, expirou suavemente, abrasado no amor divino. Morte bem-aventurada! Como não deve ter sido doce e abrasada de amor divino a morte daquele que expirou nos braços de um Deus e da mãe de Deus? Jesus e Maria choraram ao fechar os olhos de José. E como não havia de chorar aquele mesmo Jesus que choraria sobre a sepultura de Lázaro? Vede como ele o amava! disseram os judeus. José não era só um amigo, mas um pai querido e santíssimo para Jesus".

Aceitando que José tenha morrido antes, é presumível que ele tenha sido assistido por Jesus e Maria na sua hora suprema; uma morte das mais afortunadas que se possa desejar. Por isso ele é considerado patrono da boa morte. O último ato da sua vida foi cumprido no obscuro e pobre casebre de Nazaré, mas foi de tamanha relevância que só este homem de missão única na terra dele pode ser protagonista.

A experiência da morte sempre traz solidariedade. Por isso os seus familiares se reuniram para ajudar naquele momento especial. Naquele dia, como era normal nas pequenas cidades e aldeias, Nazaré parou para dar o último adeus ao grande amigo. Afinal nos longos anos de convivência com o seu povo, José havia deixado a sua marca de homem justo, trabalhador, prático e amigo de todos. Por causa da sua profissão, ele tinha ajudado a muitos nazarenos levantar as quatro paredes de barro batido para construir suas casas. Consertou uma infinidade de arados. Fabricou mesas, bancos e uma variedade de utensílios para os lares de quase todos os moradores do lugar e dos arredores, já que a sua profissão não se resumia unicamente na mesa de sua carpintaria..

Admitindo que José morreu durante a vida pública de Jesus, devemos concluir que ele foi assistido por Jesus e Maria na hora de sua morte como enfatiza a tradição nas Igrejas do Oriente e é em vista disso que é invocado como protetor dos moribundos, ou da boa morte. Outra questão que os teólogos colocam é que quando José morreu, evidentemente Cristo não tinha ainda passado pela sua morte e ressurreição e portanto José não pode entrar diretamente no céu, após a sua morte. Mas com a ressurreição de Jesus, segundo a maioria dos teólogos, José teria ressuscitado e subido aos céus. Os teólogos para afirmarem isso baseiam-se a Mt 27, 52-53: “Os sepulcros se abriram e os corpos de muitos justos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas, entraram na Cidade Santa e apareceram a muitas pessoa”. Embora alguns teólogos como Santo Agostinho, São João Crisóstomo, São Gregório Magno, sustentam que a ressurreição dos mortos referida neste texto de Mateus deve ser entendida como transitória, outros como Santo Inácio de Antioquia, Orígines, Santo Ambrósio, São Jerônimo, Santo Epifânio e teólogos mais modernos como Maldonado, Alapide, Knabenbauer, admitem a ressurreição definitiva (B. Llamera, teologia de San José, Madrid 1953, pg 301).

É importante afirmar que não existem notícias sobre o sepulcro de seu corpo como objeto de veneração e nem mesmo conhecimento de algumas de suas relíquias corporal, também se em alguns lugares conservam-se alguns presumíveis objetos seus como a aliança de seu matrimônio, bastão, manto, etc., os quais não se pode provar que sejam verídicos. De qualquer maneira pode-se dizer que uma eventual ressurreição e assunção de José deve ser vista como uma “devota opinião” e não como uma doutrina.
Fonte: Centro de Espiritualidade Josefino-Marelliana
             Curso de Josefologia (http://www.josefologia.blogspot.com/ )