Nesse intervalo entre os esponsais e as bodas, Maria
recebeu a embaixada do Arcanjo Gabriel. O Evangelho de Mateus deixa-o bem claro
ao afirmar: “Antes de coabitarem, aconteceu que Ela concebeu por virtude do
Espírito Santo” (Mt 1, 18). Supérfluo seria nos estendermos aqui sobre os
detalhes da Anunciação e da Encarnação do Verbo, já tão conhecidos e tantas
vezes comentados. Um ponto apenas é preciso deixar bem claro: poucos dias
depois desse acontecimento, Maria
dirigiu-se apressadamente para o pequeno povoado das montanhas da Judéia onde
habitavam seus primos, Zacarias e Isabel. Boa parte dos comentaristas defende a
idéia de que José acompanhou sua esposa na viagem de ida e, transcorridos três
meses, foi buscá-La. Tal opinião parece bem fundada, pois a juventude de Maria
e as dificuldades de um penoso percurso eram razões de sobra para mover a
solicitude de um esposo fiel e zeloso, como era o seu.
Depois do
regresso a Nazaré, não tardou ele a perceber os primeiros sinais da gravidez de
sua desposada. No começo, relutou em acreditar, julgando-se vítima de uma
alucinação. Passados, porém, alguns dias, não pôde mais duvidar da realidade
patente ante seus olhos: Maria
trazia uma criança em seu seio.
Nesse
momento eclodiu, como violento turbilhão, o drama na vida de São José. Talvez a
provação mais terrível que uma mera criatura humana — fazendo abstração da Santíssima
Virgem ao longo da Paixão — jamais tenha enfrentado. Essa era,
entretanto, a divina vontade do Menino que Se formava nas puríssimas entranhas
de Maria.
Desejava Ele que seu nascimento viesse com o selo indelével da dor santamente
aceita, para dar-nos a lição de que quanto mais uma pessoa sofre, tanto mais é
digna de amor. O pai adotivo que escolhera como imagem de seu Pai Celestial,
Ele o submetia a uma dura prova, dando-lhe oportunidade de levar seu heroísmo a
alturas inimagináveis. Ao mesmo tempo, aparecia com maior esplendor a
virgindade de Nossa Senhora.