A REALIDADE UNITÁRIA ENTRE MARIA E JOSÉ


Compreender isso não é fácil para nós; estamos sobre dois planos diferentes; se Deus quis ser homem, Maria e José são as criaturas de um tempo mais alto e mais humilde.
 (Bevenuto Micardi )



Não se pode considerar em separado as figuras de Maria e de José. É muitíssimo comum apresentar Maria, Mãe de Deus, praticamente sozinha, como se Ela pudesse ter assumido a Maternidade divina sem o apoio de José ou de um outro homem.
Em primeiro lugar o nome de uma criança era dado pelo pai. Assim uma mãe solteira não poderia dar o nome ao filho se o pai não o assumisse. A criança nascida de uma situação como esta estava destinada a um como que ostracismo religioso e social, pois não tinha uma filiação, um nome, uma família, pois esta era dada pelo pai. Em alguns casos o avô materno da criança, usado de amor paterno com certeza assumia a paternidade legal do neto ou neta.
Por outro lado não encontramos qualquer menção dos pais de Maria, sequer em Lucas. Em Mateus José é identificado como filho de Jacó, na genealogia de 1,16 e filho de Davi na anunciação de 1,20; em Lucas José é identificado como filho de Levi na genealogia de 3,23. Sabe-se que estas genealogias expressam mais uma visão teológica do autor do Evangelho e não expressam a sucessão das gerações com a fidelidade que seria do gosto moderno. Por isso encontramos em Lucas um José filho de Levi e em Mateus o mesmo José filho de Jacó. Todavia mais importante que tudo isto é o texto de Mateus 1,20 onde é chamado de filho de Davi, isto é, descendente real, da família davídica, herdeiro das promessas do Messias Salvador. De Maria não se fala de família ou ascendência ou dependências familiares. Ela é importante pela sua própria natureza humana e pela Graça única e irrepetível da maternidade divina.
José, por outro lado, entra dentro do Mistério da Encarnação pela dimensão religiosa e social. Pode-se dizer que Maria enraíza Jesus na história humana e antes mesmo, na realidade humana; José por sua vez enraíza Jesus na história de Israel e na esperança do Povo de Deus. José é o portador da herança religiosa de Jesus o que é muito se, se considera a mensagem Evangélica como mensagem religiosa – naquele sentido profundo que a religião tem para os judeus, envolvendo todo o Homem e suas realidades e situações.
Desta forma não se pode separar as duas figuras mais centrais da Encarnação depois do próprio Jesus, é claro. José e Maria estão no núcleo da Encarnação e mantém uma unidade que pode-se qualificar como indissolúvel e interdependente: Maria depende de José para a paternidade legal de seu Filho divino. Este deve ser identificado com toda Tradição religiosa, patriarcal e davídica de Israel e só poderá ter esta identidade através da paternidade. José por sua vez deve fazer um ato de fé profundo frente ao mistério que presencia e que reconhece como algo que vai além de sua compreensão. Ele somente tem a idéia do que se passa após a revelação interior do sonho (Mt 1,18-25) desta forma Maria e José não podem ser separados e guardam uma  unidade tal que chega a ser assustador como se considera o lugar e a presença de Maria no Mistério da Encarnação sem a presença de José. Seria como se Ela pudesse assumir a Maternidade divina sem a presença e a pessoa de José como pai, vinculo ou elo patriarcal e davídico de Jesus com o Antigo Testamento.        
 A Missão exercida por José no cenário evangélico não foi, portanto somente aquela de uma figura pessoalmente exemplar e ideal. Foi uma missão exercida efetivamente sobre Cristo, do qual ele era tido como pai. As razoes que sustentam a participação de José na cooperação do mistério da Encarnação são deduzidas do consentimento que ele deu para ser o pai de Jesus, embora sem intervir fisicamente na sua geração. Por isso, tanto José como Maria eram necessários para a realização da encarnação. Com o seu casamento celebrado com Maria da Anunciação, José também proporcionou as condições objetivas, mesmo sem o seu total conhecimento, para a realização do mistério da Encarnação. O relacionamento de José com Jesus estabeleceu-se no plano moral e esterno; contudo, a sua paternidade é real – ela foi preestabelecida por Deus e, para a sua realização foram necessárias, assim como para Maria as disposições de santidade.   
 
Revista Estudo de São José