A
vida de José é narrada nos evangelhos e na tradição dos grandes pensadores
cristãos. Carpinteiro, ensinou a Jesus o ofício de talhar a madeira, de tomar
cuidado com as ferramentas para não ferir nem a si nem ao outro. Esculpir o
formato certo. Fazer com que cada objeto da criação seja útil. Artistas do
ofício de fazer peças úteis e belas. Uma cadeira para o descanso. Uma mesa para
partilhar. Um armário para guardar o necessário. Um local para servir de
aconchego quando se volta ao lar.
No
lar de Nazaré, o menino Jesus pode conviver com um homem cioso do seu papel na
história. Um contador de histórias, talvez. Jesus adulto gostava de contar
histórias e de, por meio delas, desvelar mistérios da alma humana e oferecer
ensinamentos para o cotidiano. As parábolas de Jesus nascem de uma mente
acostumada a acumular sabedoria. Desde cedo, bebeu em fontes santas e profundamente
humanas.
Os
textos sagrados não trazem detalhes do dia a dia da pequena família. Maria, a
mulher que se acostumou ao silêncio e à profundidade dos dizeres, certamente O
embalou em canções de ternura e O ensejou para o protagonismo essencial a todo
ser humano. Era ela a mulher escolhida para gerar o Amor e para suportar a dor.
No dual dos seus dias, soube inspirar a serenidade. Uma mãe cativante, uma
senhora eternamente menina, com títulos tantos para expressar a devoção de
povos tantos que, no seu carisma, tentam se animar.
E
José? Sobre o que conversavam? Quais medos tinham? O que os fazia chorar? E
sorrir? Saíam para passear? Contemplavam as paisagens daquele local? Como eram
as refeições? Diziam o quê, um ao outro, antes de dormir? Amanheciam com quais
esperanças?
Na
carpintaria, o menino Jesus aprendia na madeira o que haveria de esculpir na
humanidade. O Artesão dos homens estava em construção. O ensinamento do Mestre
constrói um novo tempo. Era o Amor o Seu tema, e não a vingança. Era de paz que
Ele falava e não de acúmulos de ódios ou de posses. Era o abraço ao que estava
sem braço por ter sido alijado no caminho. Como José O inspirou a nos inspirar?
"O filho pródigo" nos ensina a perdoar e a acolher aquele que se
gastou por aí. E nos ensina a estarmos atentos à inveja daquele que se julga
sempre correto. O "Bom Pastor" traz o ensinamento de que nenhuma
ovelha deve ser deixada de lado. É preciso compreender que cada uma é
diferente. E que todas elas merecem atenção especial. Que nenhuma se perca.
Precisam elas da voz do pastor. Naquela época, cada pastor que chegava para
buscar suas ovelhas emitia um som que fazia com que apenas as “suas
ovelhas” o seguissem, porque elas reconheciam o “seu” pastor. No
"Semeador", a necessidade da boa semente. Da semente que cai em terra
fértil. E que é capaz de produzir frutos.
Que
histórias José contou para o seu filho para que Ele pudesse depois dizer à
multidão que O seguia? Sentavam-se eles no chão, talvez, e revezavam-se no
dizer e no preencher de vida os dias de preparação. No chão daquelas casas
simples em que moravam, a firmeza do caráter ia se moldando. José ensinava o
correto nas palavras e nas ações. No respeito à Maria. No acolhimento às
dúvidas do menino, de todo menino que necessita da presença do pai.
Não
sei se José ensinou ao filho lições de matemática ou de física ou de geografia.
Não sei detalhes daqueles dias naqueles tempos. Sei que os valores fundamentais
que educam o caráter de uma pessoa estavam na lida de São José, o educador.
Ensinar a ser bom, ensinar a ser honesto, ensinar a respeitar o outro, ensinar
a amar. Amar como fundamento da vida em qualquer profissão. Amar como verbo
inspirador de outros valores e ações. Amar como razão de existir. Na carta aos
Coríntios, Paulo nos ensina que o amor é paciente, é benigno, não é soberbo nem
inconveniente, muito menos interesseiro. O amor não se ressente nem se diminui
diante do mal. Ao contrário, regozija-se com a verdade e compreende o tempo.
Quando
o coração de José falava ao coração de Jesus, as palavras aguardavam. E, assim,
na simplicidade de Nazaré, naquela pequena família, os grandes ensinamentos da
humanidade estavam sendo esculpidos. Carpinteiros de vidas. Um Novo Testamento.
Uma Nova Aliança. Não mais baseada no "olho por olho, dente por
dente", mas no abraço que conforta porque compreende que, na trajetória,
em algum momento, qualquer um dos viventes pode cair e se machucar. Que nunca
falte um "bom samaritano" para agir.
Vez
em quando, é bom parar e relembrar a vida de homens que nos iluminam em meio às
escuridões que nos frequentam.