Relações Teológicas entre a Virgindade de Maria e a de São José


Relações Teológicas entre a
 Virgindade de Maria e a de São José
Autor: Pe. José Antônio Bertolin, OSJ

Ao abordarmos esse tema temos a necessidade, antes de tudo, de fazermos uma referência sobre a virgindade perpétua de Maria. Por esta ser um dogma de fé nós a aceitamos plenamente. Não discutiremos se a virgindade perpétua de Maria, Mãe de Deus, inclui o não a integridade corporal; apenas cremos que esta é parte do dogma definido pela Igreja desde o Concílio de Calcedônia no ano de 451, quando afirmou que Jesus nasceu por nós e para a nossa salvação, da Virgem Maria, a Mãe de Deus, segundo a humanidade.
            O que nós podemos perguntar é se Maria fez ou não o voto de virgindade antes da encarnação de Jesus, e, se quisermos responder com a maior parte dos teólogos, devemos admitir que ela fez tal voto. Na verdade, o que mais nos interessa é determinar as causas e a extensão da Virgindade perpétua de Maria, e para essas duas realidades diremos que entram em consideração a Encarnação do Filho de Deus e a excelência da divina maternidade de Maria.
            Quanto a Encarnação os santos Padres da Igreja com frequência defenderam a necessidade de que o Filho de Deus nascesse de um parto virginal e, portanto, exigiu-se uma Mãe Virgem. Quanto a dignidade da maternidade divina de Maria sabemos que esta é a raiz de todos os privilégios marianos e da excelência destes. Deus quis preparar uma morada digna para seu Filho e por isso, quis uma Mãe imaculada. O papa Pio IX afirma que Deus dispôs desde o princípio e antes dos tempos, uma Mãe para o seu Filho Unigênito. Essa maravilha operada por Deus na alma de Maria a fez exclamar “a minha alma engrandece ao Senhor porque o Todo Poderoso fez por mim grandes coisas” ( Lc 1,46) e compendia o especial privilégio da virgindade perpétua com sua maternidade divina.
            Admitida a virgindade de Maria a qual se fundamenta no fato da Encarnação do Filho de Deus e na dignidade de sua Mãe, passemos em consideração sobre a virgindade perpétua de São José. Antes de tudo é bom lembrar que se a Bíblia é sóbria quando fala de Maria, podemos dizer que em relação a São José ela o é em excesso. Apenas uma palavra de elogio sobre ele ao designá-lo de homem Justo ( Mt 1.19). Além desse título de elogio ao nosso santo, os evangelistas Lucas e Mateus não deixaram de lembrar que José é esposo de Maria e que ele tem a paternidade jurídica sobre Jesus, e são justamente devido a esses dois títulos que decorrem toda a dignidade, graça, santidade e glória de São José. Portanto, quando José recebeu o comunicado do anjo de aceitar Maria como sua esposa porque o que nela estava se realizando era obra do Espírito Santo, imediatamente entendeu que a sua missão não era de ser um simples pai de família, mas que lhe esperava uma missão muito mais exigente e elevada: aquela de dar ao Messias a qualidade de descendente e herdeiro do trono de Davi, de ser o seu pai aqui na terra e de tutelar a virgindade de sua esposa. Nesse sentido a mente e o estado psicológico de São José modificaram-se completamente.
            A esse ponto devemos nos perguntar: José, prometido em casamento com Maria e ainda não morando com ela, tinha o voto de virgindade? É possível admitir que tal voto não era necessário, mas também pode-se admitir que não havia nenhuma dificuldade se esse voto existisse antes de seu casamento com Maria visto que naquele tempo, quando havia um pleno fervor do essenismo, não eram poucas as pessoas que eram célibes; basta mencionar João Batista e Paulo. Contudo, é preciso dizer que  qualquer que fosse a intenção pré-matrimonial de José, ele, diante da realidade sobrenatural dos fatos (a maternidade divina de sua esposa e sua paternidade), aceitou com grandíssima disposição os planos de Deus a seu respeito e se entregou totalmente  numa vida de perfeita castidade juntamente com sua esposa.
            José, portanto, foi destinado por Deus para ser esposo de uma mãe virgem; não de uma mãe qualquer, e por isso ele devia ser semelhante a ela e consequentemente  ser virgem também. A sua missão em relação a Maria foi a de defender a sua virgindade e de proteger a sua maternidade. Ele protegeu a maternidade de Maria com o suor em seu trabalho para sustentar a ela e seu Filho; a protegeu também diante dos que ignoravam os mistérios da vinda do Messias colocando-se como pai de Jesus. Ele defendeu a virgindade de sua esposa ao casar-se com ela impedindo desta maneira que nada pudesse colocá-la em perigo, pois somente um esposo virgem podia defender a virgindade de sua esposa virgem.
            Convivendo com Maria José teve que proteger a virgindade perpétua dela e para isso teve que contar com a graça de Deus, embora a pureza que a Virgem Maria, Mãe de Deus, difundia de si o beneficiava por primeiro. Além do mais, o conhecimento que José tinha da dignidade de sua esposa como Mãe de Deus, gerava o seu grandíssimo amor para como ela e da mesma forma a convivência tão íntima e frequente com sua esposa e seu divino Filho, aumentava o tesouro de sua perfeição até elevar-se um grau tão grande que era o mais semelhante possível ao dela, e que  cada dia devia crescer mais. Por isso, Salmerón, afirma que Maria, sua esposa, não apenas mereceu para José a prerrogativa e o dom da castidade virginal mas também muitos outros dons que convinham à santidade e prudência de seu esposo. E se Maria, esposa merecia graças para José e dentre elas a da castidade virginal, o que não poderia alcançar para ele o próprio Jesus que se alegrava em chamá-lo com o doce nome de pai? E não apenas alcançava-lhe as graças, mas graciosamente as concedia. Portanto, é evidente que o matrimônio de José e Maria exigia que Deus lhe desse o dom da castidade virginal.

Pe.  José Antonio Bertolin, OSJ