José, o Justo

José, o Justo
Dom Genival Saraiva
Bispo de Palmares - PE

Em diversas passagens, a Sagrada Escritura se refere a personagens que, por sua conduta ilibada, são considerados justos. “Noé era homem justo e íntegro” (Gn 6,9) João Batista é um deles: “Herodes temia João, sabendo que era um homem justo e santo”. (Mc 6,20) O Evangelista Mateus diz que José era justo, ao escrever sobre a origem de Jesus: “Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, pensou em despedi-la secretamente. Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: ‘José, filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo.’ ” (Mt 1,18-20) “O homem justo para os judeus era aquele que não participava da culpa dos outros, ou seja, aquele que estava separado do pecador (Lc 7,39). José, como bom judeu e sendo da descendência de Davi, sabia como proceder em caso de infidelidade da mulher prometida em casamento (Dt 22,20s). Ora, Maria apareceu grávida e nada contou a ele sobre sua gravidez. Isto leva-o a tomar uma atitude mas, em nenhum momento questiona a fidelidade de Maria, antes silencia diante deste grande mistério de Deus, como em outros momentos da manifestação de Jesus (Lc 2,33.50). José sabia que este mistério ultrapassava seus limites de compreensão. Sua atitude é de agir, não conforme as prescrições da lei, mas segundo a intenção de seu coração de homem prudente, que espera em Deus quando nada entende.”


Biblicamente, atribuir-se a alguém o apelativo de justo significa dizer que tem uma retidão de vida, que faz a vontade de Deus a seu respeito e, na relação com seus semelhantes, não fere a dignidade humana. No caso de São José, dúvidas cabíveis ocorreram no contexto do “período de noivado formal de doze meses. Esse tempo de noivado era considerado sagrado, como o próprio casamento. Apenas um divórcio formal poderia desfazê-lo. Geralmente, um contrato escrito selava o acordo, e nesse caso um abuso moral constituía adultério, podendo ser punido com a pena de morte. Tradicionalmente, depois do acordo selado, o noivo voltava para casa a fim de preparar um lugar para sua esposa, retornando em algum momento indeterminado no fim dos doze meses para buscar sua noiva, consumar o casamento e levá-la para o lar. É muito difícil imaginar a extensão da tristeza de José, um jovem justo, quando voltou para buscar sua noiva. Ao contrário da crença popular, a gravidez de Maria provavelmente não era visível ou publicamente conhecida quando José chegou.” Portanto, em relação ao mistério que acontecia em Maria, José revelou-se justo ao não querer “denunciá-la publicamente”.


A observância da justiça, via de regra, é muito difícil. Ser justo é um grande desafio para qualquer pessoa. Somente vive como justo quem tem princípio, formação e coerência. Sem dúvida, é assistido pela graça divina quem segue o caminho da verdade, da caridade e da justiça. Indiscutivelmente, a prática da justiça é sempre benéfica, no plano das relações pessoais e institucionais.


Considerando-se a situação de dominação, exploração e desrespeito ao ser humano e à natureza, muito evidente na sociedade contemporânea, conclui-se que há uma grande carência de homens justos e de mulheres justas. Para todos, São José continua sendo exemplo inspirador de santidade e justiça.

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