José, o carpinteiro de Nazaré

A Igreja celebra, no dia 19 de março, São José. José, depois de Maria, é sem dúvidas o santo mais popular da Igreja. Diversas dioceses e paróquias, congregações religiosas, instituições e até cidades são dedicadas a ele. Aprofundemos um pouco, a partir da Palavra de Deus, o sentido da vida e da vocação desse homem simples, carpinteiro de Nazaré, pai adotivo de Jesus e esposo fiel de Maria. E aprendamos dele a amar e a servir a Deus, ainda que no silêncio e na vida praticamente oculta, como foi a dele.
O Evangelho pouco fala sobre ele. Sua vida está restrita ao período que antecede a vida pública de Jesus: portanto, não se tem dele muitas notícias e a tradição guardou poucos fatos relativos à sua pessoa. Mateus cita-o apenas três vezes: na genealogia de Jesus (Mt 1,16), quando José assume a paternidade legal de Jesus (1,18-24) e no episódio da fuga para o Egito e o retorno para Nazaré (2,13-23). No capítulo 13, versículo 55, Jesus é reconhecido como “o filho do carpinteiro”, sem que seja citado o nome de José. O Evangelho de Marcos não faz menção a José. Mesmo no episódio da visita de Jesus a Nazaré, nada se fala do pai de Jesus (Mc 6,1-6).
Lucas, por sua vez, é o evangelista que trata mais detalhadamente da infância de Jesus, mas mesmo assim José tem uma presença discreta em todo o texto. A figura de José aparece logo no início do texto, na passagem da anunciação (Lc 1,27). É citado novamente antes do nascimento de Jesus, por ocasião da viagem a Belém para o recenseamento (2,4) e na visita dos pastores ao menino recém-nascido (2,16). Lucas cita-o ainda depois do cântico de Simeão, dizendo apenas “Seu pai e sua mãe estavam admirados com o que diziam dele” (2,33). No episódio da perda de Jesus, aos doze anos, no Templo, Lucas fala genericamente de “seus pais”, sem citar especificamente José (2,41-51). O mesmo se dá ao relatar a vida oculta de Jesus, em Nazaré (2,51). Na genealogia de Jesus, Lucas cita José como sendo “seu pai” (3,23). Na passagem da visita a Nazaré, Lucas também insere a pergunta dos judeus sobre Jesus: “Não é o filho de José?” (4,22). Por fim, no Evangelho de João, há uma única referência a José, na já citada visita de Jesus a Nazaré: “Esse não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe conhecemos?” (Jo 6,42).
José não diz uma única palavra em todo o Evangelho: ele é uma presença silenciosa. Deus se comunica a ele por meio de sonhos, sem que lhe seja possível, portanto, sequer responder diretamente aos apelos de Deus ou questionar os desígnios divinos. É na sua vida, e não com palavras, que vai dar seu sim a Deus, caminhando nas trilhas da fé. Acreditou nas revelações de Deus, na vocação e na pureza de Maria, e na divindade de Jesus. Assume a paternidade legal de Jesus porque creu nas promessas de Deus. Foge para o Egito, como um novo Abraão que deixa sua terra para viver num país distante. Por isso, o Evangelho atribui a ele um único adjetivo, uma única virtude, que reflete sua vida e é o coroamento de sua missão: ele era justo(Mt 1,19).
Sua missão era ser guardião da Mãe de Jesus e do próprio Jesus, tarefa que realizou durante mais ou menos 30 anos - tempo em que Jesus viveu ocultamente, em Nazaré. Ele era o pai da Sagrada Família, responsável pelo sustento do lar com seu trabalho. De sua profissão, pode-se deduzir que viviam em simplicidade e pobreza, pois os carpinteiros da época, como também os outros artesãos, eram pessoas sem posses, sem escravos para lhes ajudar no trabalho e viviam apenas da venda direta daquilo que produziam em pequena escala, pois tudo era feito à mão. José ensinou a Jesus a mesma profissão. O Evangelho nos diz que Jesus também era carpinteiro (Mc 6,3). José foi um verdadeiro educador: diz o Evangelho que Jesus crescia em idade, sabedoria e graça (Lc 2,40). José também educou Jesus na fé, levando-o todos os anos a Jerusalém, para a Festa da Páscoa, como era tradição entre os judeus (Lc 2,41). Quantos pais, hoje, descuidam da educação religiosa de seus filhos! Olhassem mais para José, certamente agiriam de modo diferente.
José deve ter morrido pouco antes do início da vida pública de Jesus, embora os historiadores não tenham certeza da data. Isso se supõe pelo fato de Jesus ter-se mudado de Nazaré para Cafarnaum, logo no início de sua pregação (Mt 4,13), assim como pela atitude de Jesus em ter confiado Maria aos cuidados de João, pouco antes de morrer na cruz (Jo 19,26-27). Nas Bodas de Caná, João afirma: “a mãe de Jesus estava lá” (Jo 2,1), mas nada diz de José. Certamente, nesta ocasião, Maria já era viúva. A tradição da Igreja sempre devotou a São José as orações e súplicas por uma boa morte, uma vez que ele teve a graça de ter a seu lado, na hora da morte, o próprio Jesus e também Maria. Que grande bênção poder morrer amparado pelos braços do Filho de Deus e de Sua Mãe. Roguemos a São José que nos conceda também esta graça, na hora em que o Pai nos chamar a Si.
Peçamos a São José por nós e nossas famílias. Aprendamos dele a simplicidade, a confiança em Deus, a coragem diante das provações e a humildade prestativa. Ele soube servir a Deus sem necessidade de aparecer, sem necessidade de ser reconhecido publicamente. Diante da atitude humilde e discreta de José, choca-nos, por exemplo, a passagem em que a mãe de Tiago e João pede a Jesus para que seus filhos se sentem um à direita e outro à esquerda de Jesus, no seu Reino (Mt 20,20-23). Sejamos como José! Imitemos seu exemplo, para que também nossas famílias sejam semelhantes à família santa de Nazaré. Vivamos como ele viveu, sempre ao lado de Maria, pois quem está com a Mãe de Deus não sucumbe diante das dificuldades espirituais e materiais que a vida traz.
São José, rogai por nós!
Paulo Eduardo de Oliveira
texto publicado na edição nº 2 da Revista Divina Misericórdia

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