1. As notícias que nos transmitiram os Evangelhos sobre a família de Nazaré são escassas, mas muito ilustrativas.
2. É uma família constituída sobre a base do matrimônio entre José e Maria. Eles estiveram realmente casados, como assinalam são Mateus e são Lucas; e viveram assim até o falecimento de José. Jesus foi filho verdadeiro de Maria. São José não foi o pai natural –porque não o gerou- nem adotivo, mas suposto, quer dizer: considerado pelos vizinhos de Nazaré como pai de Jesus, devido a que as pessoas ignoravam o mistério da Encarnação e a que são José estava casado com Maria. Esta realidade tem hoje grande importância, devido às legislações civis e à cultura ambiental, tão favoráveis à uniões de fato, à uniões meramente civis, a outras formas de uniões, ao divórcio, etc. A família de Nazaré apresenta-se hoje como exemplo de casal formado por um homem e uma mulher, unidos por amor de uma forma permanente e com uma dimensão pública.
3. A família de Nazaré viveu como uma família a mais desse povo. Quer dizer, de uma maneira singela, humilde, pobre, trabalhadora, amante das tradições culturais e religiosas da sua nação, profundamente religiosa e afastada dos centros de poder religioso e civil. Um viajante que visitasse Nazaré e desconhecesse os fatos que nós conhecemos, não encontraria nenhum detalhe que distinguisse a Sagrada Família do resto das famílias: nem na casa que usavam, nem no modo de vestir, nem na comida, nem na participação dos atos religiosos que se celebravam na sinagoga, nem em nada. Deus nos quis revelar que a vida cotidiana é o lugar onde Ele nos espera para que lhe amemos e realizemos seu projeto sobre nós. O segredo é viver «essa» vida com o mesmo amor e perseverança que a sagrada Família.
4. Os Evangelhos não elucidam a profissão que exerceu são José: ferreiro, carpinteiro, artesão, ... Por outro lado, assinalam claramente que era um trabalhador manual e que ganhava a vida trabalhando. Maria se dedicava, como todas as mulheres casadas, a moer e cozer o pão de cada dia, atender os trabalhos domésticos do lar e fazer pequenos serviços aos outros. De Jesus não dizem nada, mas deixam entender que ajudava à Maria e, mais tarde, a são José nos seus trabalhos manuais. A família de Nazaré viveu o que hoje chamamos «o evangelho do trabalho»; quer dizer: o trabalho como realidade maravilhosa que dá uma participação na obra criadora de Deus, que serve para tocar o barco da própria família e ajudar a outros, e para santificar-se e santificar por meio dele. Também nisto é um modelo perfeito para a família atual. Muitas continuam vivendo igual a ela e outras, apesar do trabalho da mulher fora do lar e da tecnificação das tarefas domésticas continua sendo fundamentalmente igual.
5. A família de Nazaré era uma família israelita profundamente crente e praticante. Como faziam o resto das famílias piedosas, rezavam sempre em cada comida, iam cada semana a escutar a leitura e a explicação do Antigo Testamento na sinagoga, subiam a Jerusalém para celebrar as festas de peregrinação, como a da Páscoa e a de Pentecostes, rezavam três vezes por dia o famoso «Escuta, ó Israel». A bênção da mesa na hora das comidas, a participação semanal na missa do domingo e a leitura da Sagrada Escritura continuam sendo fundamentais para que a família cristã realize sua missão educadora.
6. A família de Nazaré vivia tudo centrada em Deus: Deus era tudo para ela. Quando noivos ainda, José confiou em Deus, quando lhe revelou por meio do anjo que a gravidez de Maria era por obra do Espírito Santo. Casados, Maria e José tiveram que ouvir do filho, que acabavam de encontrar, depois de dias de angustiosa busca, estas palavras: «por que me buscavam? Não sabiam que devo ocupar-me das coisas de meu Pai?» Eles não o entenderam, mas o aceitaram e tentaram encontrar o seu sentido. Maria, por outro lado, não tropeçou na fé quando viu seu filho cravado na cruz como um criminoso e derrotado pelos chefes do povo. A família cristã, cuja vida é sempre um quadro de luzes e sombras, encontra a paz e a alegria quando sabe ver a Deus nisso também, ainda que não consiga compreendê-lo
Fonte: www.vatican.va