“A
caridade não pensa no mal” (São Paulo Apóstolo)
As aflições pelas quais passou nesta vida mortal
o terno coração de São José, esposo santíssimo de Maria, e o premio e
compensação com que o Senhor lhe pagou com inefável alegria, eis o objeto da
presente devoção.
Que feliz lembrança foi esta, amados
companheiros meus, entregarmo-nos ao culto de tão grande Santo! Oferecer-lhe o
incenso de nossas orações. Quem seria que no céu foi nosso intercessor para
Deus, com seu Santo Espírito, nos introduzir na mente tão santo pensamento e,
ao mesmo tempo e com perfeito unanimidade, obter uma aprovação geral? Quem
seria? Seria o mesmo Santo? Sem duvida, que olhando lá no céu para esta
florescente mocidade, dela se compadeceu e disse para Jesus, seu Filho: “meu
Filho dignai-vos lançar vossas amorosas vistas sobre tão devotos moços. Permiti
e mandai-nos entregar, quero, desde já, que sejam meus verdadeiros devotos,
meus afilhados, meus filhos; inspirai-lhes que se empreguem no meu culto e,
desde já, vos peço que sejam os mais amantes da pureza, meus imitadores. Um
deles tem de subir aos altares, outro à tribuna judiciária. Oh! Sem esta
virtude, que farão? Apiedai-vos deles”
Senhores, à vista desta oração de São José, que
faremos? Não espero pela vossa resposta que me é indubitável. E, desde já
contemplemos na sua primeira aflição e no seu primeiro prazer. Vê sua esposa
com indubitáveis sinais de gravidez, ao mesmo tempo em que lhe reconhece uma
pureza mais que angélica: que fará? O prazer foi à revelação do mistério da
divina Encarnação. Pensemos um pouco sobre este objeto. Se vós, ó nosso Santo,
nos inspirastes o pensamento, sede vós também que lhe dais o complemento e o
fruto.
Maria Santíssima já estava certa, pelo anuncio
de Gabriel e pelo seu Fiat, que o divino verbo estava encarnado em seu
puríssimo seio. Zacarias, participante da mesma revelação, já tinha desatado
sua língua muda, no hino do Senhor. Isabel já chama a Senhora, Mãe de Deus. O
mesmo Santo Precursor, encerrado como estava no ventre materno, penetra quem
era aquela mulher que visitava sua Mãe e quem era o que trazia em seu seio, e
de lá, saltando de prazer, o saúda e cumprimenta. Todos são participantes da
divina revelação, a todos estes fala o céu e só José não fala. Que mistério é
este. E qual será o motivo de se lhe ocultar esta nova? Deus o sabe.
Entretanto, poderemos considerar que quer Deus dar ao nosso santo mais esta
matéria de merecimento, mais esta auréola de gloria. Preparai-vos, santo
bendito, antes de Jesus ser crucificado, crucificado sereis vós, mas que
alegria, mesmo neste mundo, vos está Deus preparando e que gloria no
futuro.
Desce José as montanhas da Judéia: sua esposa
nada lhe revela do que por ela tem passado. Ele divisa sinais de gravidez em
sua consorte, que cada vez se descobrem, mais e mais. Que tribulação! Que
trabalho! Que penas e aflições! Os olhos o informaram da gravidez da Senhora,
mas a longa e evidente experiência da sua santidade o informava do contrario.
Que fará? Mormente, porque charitas non
cogitat malum. Ó meu Deus, por que aperto fazeis passar a vossa Santíssima
Mãe que certamente divisava as aflições de José e por que angustias a uma alma
ao pura, tão santa como a de seu esposo? Contudo, ele se não deixa levar a um
juízo nem a uma suspeita temerária, mas sua tribulação é incrível, é grande em
extremo, até que o Anjo do Senhor lhe diz: “não temas, José porque o que vê em
Maria não é obra do homem, mas do Espírito Santo. Ouve a noticia que Deus te
manda dar por meu intermédio. É vindo a este mundo o reparador do gênero
humano, o Restaurador do universo, Redentor do mundo o desejado das nações, o
verbo divino que se fez carne no puríssimo seio desta, a santa de todas as
puras criaturas”. Rasgou-se o véu dos mistérios divinos, dissipou-se uma
espessa nuvem que abafava o coração de São José. Quer-me parecer que nunca
houve no mundo uma alegria maior que esta e que é como um quase milagre não
morrer de gosto.
São José, de certo ele se prostraria por terra
e, de mãos erguidas e olhos no céu, ele entoaria um hino ao Altíssimo, não
menos suave, não menos poético que do santo velho Simeão, o santo Pai do
precursor ou da Santíssima Virgem, no entanto nenhum deles passou de um extremo
ao outro, de uma profunda consolação a uma inefável alegria. Ah, que pena que
as sagradas letras não refiram o cântico de São José! Como não convidaria ele a
todas as criaturas a louvar o Senhor! Como agradeceria a Deus tal noticia da
Redenção do gênero humano! Só vós, ó Anjo bendito, que anunciastes a São José o
mistério da redenção e o livrastes da negra nuvem da tristeza, sois testemunha
desse cântico de José, desse inefável prazer.
Recebei ó Santo patriarca, em nome destes vossos
devotos, o parabéns que todos vos damos; desde esse feliz momento, reconhecei
que sois o consorte da mais santa de todas as criaturas, da bendita entre todas
as mulheres, que sois a mais feliz de todos os esposos, o escolhido entre todos
os homens para cabeça da mais santa das famílias. Em retorno desse meu pobre,
mas sincero elogio, em paga deste simples culto que vos oferece esta porção de
moços e pelo amor que tendes a esta santíssima Esposa vossa e a este tão lindo
Menino que tendes nos braços, curai-nos de juízos temerários, porque charitas non cogitat malum. Dai-nos que
imitemos essa puríssima virtude da pureza que tanto lustre deu a vossa Esposa e
a vós. Amém.
Autor
desconhecido
Estudos
Josefinos n°06 dez 2001